Foi em meados de 2014, logo após a regularização de toda a documentação da empresa, do carro e também dos meus documentos como motorista profissional para condução de veículos de passageiros ficarem prontos, que surgiu essa demanda para uma viagem a SP, com fins de levar um grupo de pessoas a acompanhar um velório e sepultamento naquela cidade.
O cliente dessa viagem veio através da indicação de um parceiro amigo meu, que sabendo do meu início no ramo de transporte de passageiros, estava imbuído em me ajudar neste início de atividades.
A minha van é uma Renault Master longa, montada para transportar até 14 passageiros é uma van categoria executiva porque tem bancos em couro e reclináveis, acortinada, frigobar, som e TV, tomadas 110V, ar condicionado, enfim, um carro montado para proporcionar o maior conforto e segurança aos passageiros transportados, e essa viagem, a primeira viagem comercial que eu iria fazer, também serviria para que eu ja obtivesse uma avaliação do cliente.
Tão logo recebi todas as informações do cliente para a viagem, formulei o contrato de locação e todos os outros documentos necessários para a viagem, vi que seria uma viagem com a lotação máxima do veículo, ou seja, iriamos em 14 passageiros, nada mal para a primeira viagem da JC LOCAÇÃO DE VANS, considerando que iria testar tudo…motorista, carro e tratativas com o cliente, verdadeira prova de fogo!, mas tranquilo para mim, estava ansioso para ir logo para a estrada porque sempre gostei de dirigir.
Já na formulação da documentação eu vi que todos os nomes eram de japoneses, e pela data de nascimento, todos já idosos, excelente pensei eu, vai ser uma viagem tranquila porque sei do respeito e consideração dos japoneses nas tratativas com estranhos.
Feito toda a documentação, van no “jeito”, e eu ja alinhado, uniformizado e de “mala e cuia” , fui todo faceiro ao encontro dos passageiros (local de embarque era um só). Chegando la o povo já estava pronto e tão logo me apresentei, já foram entrando na van e se acomodando cada um em um banco na van, bacana que eles iam entrando, sentando e já iam afivelando o cinto de segurança…eu só ficava escutando o “click” da trava do cinto, pareciam sincronizados em uma espécie de “balé” de embarque rsrsrs!
Embarcados, alinhei a van na proa de SP e lá fomos nos para a estrada…
Nos bancos logo atras do banco do motorista, sentaram duas senhoras que ficavam o tempo todo passando receitas uma para a outra, as vezes a receita era a mesma, porem uma sempre achava um jeito de melhorar a receita da outra, e eu ali na frente dirigido a van, quieto mas ouvindo tudo e rindo as vezes porque chegava a ser engraçado tudo que elas falavam, vale ressaltar que não se escutava o restante da van, todos estavam quietos com excessão das duas senhoras que falavam sem parar…lá pelas tantas, uma delas cutucou meu braço e disse naquele sotaque japonês: motorista!, motorista! e eu logo respondi: sim!, a senhorinha disse: nos estamos incomodando o Sr, com a nossa conversa? – eu respondi, claro que não, eu só estou sentindo falta de condições para anotar todas essas receitas que vocês estão falando porque estou salivando aqui no volante da van… rsrs! elas riram um monte e eu já nem lembro mais das receitas…
Fizemos algumas paradas pelo caminho para que eles esticassem as pernas e também, a famosa “tirada de água do joelho”, porque quem tem mais idade sabe que fica difícil viajar com a bexiga cheia. (quem gosta de tomar umas biritas também sabe disso rsrsrs!), mas isso será tema para uma outra história hilária que vou contar.
Lembro que chegamos em SP no finalzinho da tarde daquele dia e fomos direto para a capela onde estava acontecendo o velório. A capela ficava anexa ao cemitério, e chegando lá eu já preparado para aquele climão de velório, onde as pessoas estão tristes, chorosas, qual foi a minha surpresa quando encontrei um “clima” diferente, estava leve, as pessoas mostravam um ar de tranquilidade e eu senti até uma certa paz no ambiente, outra coisa que me surpreendeu foi quando avistei uma mesa farta de comidas típicas japonesas que estavam bem apetitosas…affe! eu já louco para me abraçar com o prato de sushi… mas em respeito esperei eles me chamarem para comer… demorou um pouco mas chamaram rsrsrs!
Após passarmos um tempo ali na capela, os japoneses resolveram que era hora de ir a chácara da família do falecido para o pernoite, foi um trecho curto da capela até a chácara e chegando la tive que entrar com a van por um acesso lateral e que não permitia chegar com a van até a casa sede da chácara, assim os japoneses desembarcaram e seguiram o restante a pé e subindo uma escadaria até sumirem da minha vista…
Bem, eu fiquei ajeitando a van para já deixa-la pronta para a viagem de retorno a Curitiba, quando me dei conta que ja tinha se passado algum tempo e o breou tomou conta do lugar, já não enxergava mais nem a escadaria para onde os japoneses tinham subido até a casa sede, e para piorar a situação, apareceram alguns cachorros grandes e com cara de bravos ali rodeando a minha van…dizem que cachorro amarelo de boca preta são muito bravos, e aqueles eram amarelos e de boca bem preta…fuja loco! fui para dentro da van e fiquei la bem quieto. A minha sorte é que sempre tenho comigo um kit de sobrevivência (aprendi isso quando viajava de caminhão), nesse kit tenho algum tipo de comida e também apetrechos para abrigo do frio, foi o que me salvou porque os japoneses esqueceram de mim, pois é, sabe aquilo que falei no início, do respeito e da consideração que os japoneses tem pelos outros?, caiu por terra ali naquele momento…rsrsrs! que vontade de esganar uns olhos puxados…
Foi literalmente uma noite de cão!. Eu até estava tranquilo ali dentro da van, abrigado do tempo e das questões externas e incertas do terreno, do local onde fiquei com a van estacionada que era literalmente enfiado no meio do mato e sem nenhuma estrutura de apoio. Então, ai começou a vontade de fazer o “número 1” e eu ali dentro da van comecei a olhar para fora e pensando em como iria sair da van naquele breou e com aqueles cachorros que não tinham cara de bons amigos. Conforme foi passando o tempo e a vontade aumentando, o desespero também ia tomando conta do meu “ser”… finalmente quando a “coisa” já estava no limite da tolerância decidi que era a hora da verdade, de sair da van e “garrar” o mato…rsrsrs! Porém antes de abrir a porta da van eu resolvi abrir a janela e dar uma espiada no terreno, medir visualmente a distância do cachorro mais próximo e calcular o tempo que eu levaria para correr de volta para dentro da van caso tudo desse errado…é incrível a nossa capacidade de pensar tudo isso em tão pouco tempo né! mas a necessidade obriga e vocês não tem ideia de como somos capazes de resolver equações matemáticas e fazer cálculos com extrema rapidez no desespero. Mas também é uma verdade que nessas horas você tem ideias ótimas, e foi assim que tive a ideia de atrair os cães para perto da van oferencendo um pouco das minhas bolachas e outros salgadinhos que tinha ali disponível, deu certo, primeiro veio um deles e depois o outro, comeram as bolachas, me cheiraram e nessa eu aproveitei e fui bem de mansinho fazer o xixi…mas de olho na van que já estava com a porta aberta…rsrsrs!
O dia amanheceu e lá pelas tantas começaram a descer os japoneses para embarque na van, e advinha só quem liderava a “gangue”?, sim! aquelas duas senhorinhas das receitas…quando me viram colocaram as mão na cabeça e disseram…”motorista! motorista! motorista!…esquecemos do motorista”…rsrsrs! e continuando falaram: “mas porque o Sr. não subiu até a casa? – e eu disse: poderia ter ido se não fosse os cachorros amarelos de boca preta que estavam aqui sedentos por um suculento bacon brasileiro…rimos todos!
Mas que eu fiquei lascado de bravo fiquei!, pipocado de picada de pernilongo, dolorido porque dormi no banco da van…mas enfim, a primeira viagem a gente nunca esquece!
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2 comentários
Sueli · 07/09/2023 às 20:13
Que realmente a primeira viagem nunca será esquecida . Principalmente qdo se e esquecido kkk.
Com certeza foi um experiência e tanto , isso que vce já estava com um kit . Cobertor , água e bolachas . Parabéns!!! Só faltou repelente kkk.
Jassa · 21/09/2023 às 00:42
obrigado Sueli, e sim, vc tem razão, faltou o repelente! foi depois desse episódio que eu o inclui na minha lista do “kit de sobrevivência”.