Essa história que vou descrever, conta sobre a viagem das meninas da melhor idade pelo Paraná!

Trabalhar com pessoas da “melhor idade” é sempre gratificante. São pessoas de muita experiência de vida, pessoas que já escreveram uma história, que deixaram um legado e agora resolveram aproveitar a vida e viajar, conhecer lugares e culturas diferentes.

Eu tenho tido a grata satisfação de conduzir diversos grupos dessa melhor idade, aliás, esses dias quando ajudava as “meninas” de um outro grupo a embarcarem na van, uma a uma dando a mão e cuidando para que tomassem impulso ao subir os degraus de acesso ao salão da van e após ter embarcado já algumas delas, falei! “Que legal, hoje teremos só meninas da melhor idade no passeio…”, Pra que falei isso, uma delas já gritou lá do fundo… “—Melhor idade pra quem meu filho?” (Foi uma risada só!!)

Mas eu sempre digo que os idosos são crianças com experiência. Você vai dizer que não! Que são teimosos e muitos até rabugentos, outros são esquecidos, debilitados, enfim, não posso discordar de todo, porém, pense comigo, se esses idosos estão viajando é porque podem, não é? Se estão fora dos seus domicílios e ainda sem cuidadores, é porque podem e são independentes, tanto fisicamente quanto financeiramente…é claro que esses idosos nunca viajam sozinhos, sempre estão em grupos com outros idosos seus amigos, e ai se precisar de ajuda eles se ajudam, e às vezes até tiram “sarro” um do outro dependendo da situação.

Então, tudo começou como tantas outras histórias. Recebi um chamado via WhatsApp, solicitando orçamento para alguns serviços de turismo em Curitiba. A interlocutora complementou dizendo que os passeios seriam para um grupo de 7 senhoras da melhor idade. Trocamos várias mensagens e fui descrevendo a ela algumas possibilidades de passeios por Curitiba e também nas imediações. Após muitas conversas e explicações de minha parte, percebi que se estabelecia uma relação de confiança delas para comigo e minha empresa.

As propostas que apresentei continham: citytour em Curitiba, passeio em Morretes com a possibilidade de irem de trem e voltarem de van, passeio no caminho do vinho em São José dos Pinhais, percorrendo várias vinícolas que possibilitam degustação de vinhos e sucos. Outra opção que informei, mesmo achando improvável, a de passarem o dia na Ilha do Mel e visitarem as duas praias mais famosas da ilha: praia de Brasilia e praia de Encantadas. Apresentei também a possibilidade de irem visitar a Rota Holandesa em Carambeí e Castro.

Tivemos várias conversas em áudios e textos pelo WhatsApp afinando o que faríamos, até que “bateram o martelo”. Resolveram por Morretes e Ilha do Mel no mesmo dia e Caminho do Vinho em uma tarde de outro dia. Os outros passeios foram descartados por conta do pouco tempo delas aqui na cidade.

Quem conhece esses dois passeios: Morretes e Ilha do Mel, sabe que é muito difícil e corrido fazer os dois passeios no mesmo dia, e não é por conta da idade delas que dificulta a locomoção, mas porque são locais onde merecem nossa dedicação turística integral, ou seja, o ideal é dedicar um dia para cada um desses atrativos. A ilha do Mel então nem se fala, lá existe duas praias que são exploradas turisticamente: praia de Brasilia e praia de Encantadas. Cada uma delas distante uma da outra, com seus encantos a serem apreciados e explorados. São praias lindas, trilhas, morros, farol, forte e seus mais variados restaurantes locais, enfim, um dia na Ilha do Mel ainda é pouco!

Mas não teve jeito, fechamos mesmo um dia para Morretes e Ilha do Mel, e outro dia só para o Caminho do Vinho. Acertamos que sairíamos cedo do hotel para a Ilha do Mel e elas almoçariam lá e na tarde sairíamos para o passeio a Morretes voltando para Curitiba, subindo pela serra da Graciosa, que diga-se de passagem é outra maravilha da nossa região.

Fui buscá-las no hotel no dia e hora combinado para o passeio da Ilha do Mel e Morretes. Todas animadas e alinhadas para o passeio. Naquela manhã Curitiba estava com clima agradável, nada de surpresas. Seguimos com destino a Ilha do Mel e elas estavam conversando animadas, seis delas sentadas nos primeiros bancos do salão da van, e uma delas, a interlocutora do grupo, sentada ao meu lado no banco da frente.

Quando falo que idoso é como criança, só que com experiência, é porque as conversas são sempre as mesmas…são ingênuos igual criança, fazem arte igual criança, mas fazem tudo isso com muita experiência e propriedade, chega a ser engraçado ouvir as conversas e causos que falam.

Durante nosso percurso até a ilha do mel, cerca de 140km, percorridos tranquilos e sem pressa, eu ia escutando as conversas das meninas e rindo…mas em certo momento fui juntando na minha cabeça partes das conversas delas e comecei a ficar intrigado com algo que ouvira ali dentro da van durante os primeiros km da viagem…

Percebi que uma das meninas, acho até que era a mais idosa do grupo, estava de conversa ao telefone (ela com fone de ouvido), falando com alguém. Não se ouvia a outra pessoa, só ouvia ela falando, mas juntando as falas, percebi que estava marcando um local para se encontrar com alguém, ou  no caminho, ou lá na ilha do mel.

Olhei para a interlocutora que estava ao meu lado, e perguntei: vocês estão indo a Ilha do Mel para encontrar alguém? Por isso desejavam ir antes à ilha?… ela me olhou e só fez com a cabeça que não, e virou a cara para o outro lado sem dizer uma só palavra. Confesso que fiquei intrigado mas até aí não vi nada de errado. Porém o que me chamou a atenção foi a reação das outras meninas, estavam afoitas, cochichando, falando baixo acho que para eu não ouvir sobre o que estava por acontecer…

A coisa estava estranha, mas ficou mais entranha ainda quando essa menina que estava ao telefone começou a me perguntar em qual local estávamos…eu respondia e ela repassava à pessoa que estava ao telefone. Assim, por diversas vezes, até que ela resolveu “abrir o jogo” dizendo: — Motorista!, quando estivermos perto da chegada, o Sr. avisa para eu me maquiar, passar um perfuminho…. Hum! aí não deu mais jeito! Elas tiveram que contar o que pretendiam…

Essa menina que ficava ao telefone, digamos, a menina mais sapeca da turma…, tinha marcado um encontro com uma pessoa que conhecera pela internet. Eles já se relacionavam por algum tempo trocando mensagens nos aplicativos desse tipo, mas nunca tinham se visto pessoalmente. Aqui e agora seria a hora do “vamos ver”.  E elas todas estavam ansiosas pelo derradeiro encontro amoroso!!

Com as coisas mais claras e eu já sabendo do plano amoroso em ação, a a conversa ficou mais aberta. Eu super entendi e até participei do momento “cupido” da viagem. A descontração ficou mais presente e elas a perguntar como seria para reconhecer o pretendente, como estaria vestido ou de que forma fariam o reconhecimento…assim foi por algum tempo até que a sapequinha da idosa ligou novamente para o galante. Falou ela: —Fulano! Como vamos lhe reconhecer? Em qual local vc vai estar?…ele respondia, mas como ela estava com o fone de ouvido, nós outros participantes do plano, só ouvíamos a fala dela, não ouvíamos as respostas. A sapeca só nos reportava: —Ele vai estar esperando próximo ao balneário… —Ele vai estar com uma bicicleta… e assim, com essas descrições seguimos viagem. A certo momento uma delas me perguntou se existiam muitos idosos de bicicleta naquela região. Respondi que sim,  há sempre muitos idosos que residem no litoral, próximo a praias e que usam a bicicleta como meio de locomoção.  Dali pra frente, foram só risadas, pois apareciam muitos idosos de bicicleta, andando pelas vias laterais da rodovia e elas olhavam e diziam: —Olhem ali, é ele!… A sapequinha dizia calmamente:  —Não, esse não é o meu…!!   Lembro que comentei: Aqui há muitos idosos de bicicleta, dá pra escolher, com certeza teremos muita oferta…rsrs!

A tensão dentro da van aumentava a medida que nos aproximávamos do ponto de encontro. Cada “bicicleteiro” que avistávamos, já era um suspiro. —É ele! No entanto, a menina dizia firme e determinada:  — Não, esse não é! Ela na maior elegância, sentada, passando aquele baton vermelho e dando uma geral no cabelo.

Até que avistamos o safado do menino à beira da estrada, acenando com a mão para pararmos. Vou te falar, eu esperava mais do galanteador cibernético, gato “esgualepado” de praia…parei a van e nessa hora fica aquela sensação: Será que abro a porta ou saio correndo? Maior Climão!

Acho que todos ali ficamos constrangidos com a situação. O sujeito todo desconcertado não sabia o que fazer, também, imagina só a cena: Você conhece uma pessoa pela internet, fica de papo por algum tempo (muito tempo, talvez mais de anos) aí, de repente essa pessoa diz: —Estou indo ao seu encontro… Affe! Então, encosta uma van na sua frente, abre a porta e tem uma plateia para acompanhar seu primeiro encontro…é de arrepiar, convenhamos, é constrangedor mesmo!

Ele, o menino sapeca, não sabia direito o que fazer, mas depois de algumas relutâncias ele abriu a porta e liberou a menina namoradeira para finalmente se olharem…gente do céu, foi uma decepção mútua. Ele talvez esperasse outra pessoa e ela se decepcionou pela atitude dele… enfim, foi um desastre. Ela esperava que ele viesse conosco passear na ilha e teriam todo o dia para se conhecer de verdade, curtir o presencial…mas foi tudo ao contrário, ele deu uma desculpa que tinha trabalho e foi logo se despedindo, nos despachando mesmo. Acho que o encontro não durou uns 10 minutos ali parados, mal ela desceu da van e se aproximou dele, acho que trocaram um “selinho” rapidinho e foi só, diria que estragou a viagem dela. Confesso que fiquei com vontade de descer e dar um corridão no gato esgualepado de praia. Tadinha da menina!

Mas, como dizem: a fila anda…seguimos nosso passeio e as outras meninas trataram de contornar o climão dentro da van. Chegamos ao ponto de embarque para a ilha do mel era perto da 9h da manhã, ainda não tinha sol mas estava quente com aquele mormaço característico do litoral. Lá seguiram as meninas para seu dia de praia. Quando voltaram, já passava das 15h. Então, seguimos para Morretes e depois retornamos à Curitiba sem maiores ocorrências.

No dia seguinte, fizemos o Passeio ao Caminho do Vinho. Percebi que a menina namoradeira virtual, estava ainda um pouco triste, cabisbaixa. Então, durante o passeio tratei de animá-la e no final do dia, elas estavam muito felizes.

Nem tudo são flores, mas podemos transformar a vida de pessoas quando decidimos ouvir sem julgar, sorrir sem esperar nada em troca e principalmente, estar junto simplesmente pelo prazer da companhia.

Sinceramente desejo a essas meninas, muita saúde para que possam realizar outras tantas viagens e conhecerem pessoas e lugares maravilhosos. Que Deus as abençoe! 

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Categorias: contos

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